NO BOJO DA CONDUTA
Naquela noite, há cinquenta anos atrás minha irmã acordou-me com seu choro. Sonolento e meio chateado perguntei-lhe o estava acontecendo, ela me falou que havia ladrão lá no quintal, pois estava forçando a janela para poder entrar em nosso quarto, lá no Moinho Velho.
Eu estava tonto de sono, mas resolvi acudir a todos principalmente a ela que acreditava que o barulho era feito pelo ladrão.
Nossa casa era muito grande e na escuridão eu fui atravessando até o quarto de meus pais, eu sempre soube que a mim nada iria acontecer, tinha que acreditar que no momento exato eu daria um jeito de me safar. Covarde, mas inteligente.
Parei na porta do quarto deles, os meus pais, até que meu pai resolvesse acordar, acho que ele estranhou, mas acendeu a luz do abajur que estava sobre o criado e perguntou o que estava acontecendo. Respondi-lhe que a Marialva disse tinha ladrão tentando entrar em nosso quarto.
Meu pai atravessou a casa junto comigo e ao chegar a nosso quarto teve a brilhante idéia de acender a luz. Acho que tudo ficou menos assustador. Éramos três irmãos, eu contava com uns três a quatro anos de idade não mais, minha irmã deveria ter por volta de quatro e meu irmão dois ou três.
Naquela noite ventava muito e a veneziana balançava com o vento produzindo o barulho que junto com a vidraça, a assustava.
Meu pai nos tranquilizou e voltou para se quarto.
Não tinha idade ainda para meditar sobre o acontecido, sabia apenas o que havia feito, mas ao sabor filosófico tudo era insípido. Com a pouca idade que tinha eu apenas queria brincar.
No entanto eu ouvia meu pai comentar com todos, durante certo tempo sobre minha coragem. Eu não acreditava que aquela atitude de menino pudesse me reservar tantas futuras lições.
Meu pai era filho de árabe-libaneses e explicava que lá no oriente médio os homens não deixavam as mulheres em situações difíceis. Eu nunca discordei dele, mas também não acreditava que ser cavalheiro, era o que ele ensinava, exigisse qualquer sacrifício a mais. Aliás, até hoje eu ainda não mudei de ideia, ao menor sinal estou pronto para fazer uma gentileza, sem permitir que meu ato mereça em seguida qualquer mérito.
Mas surpreendo-me que por parte de algumas mulheres, minha educação soa muito estranha, comentam estupefatas ou até mesmo debochando que sou um cavalheiro.
Noto também a dificuldade que muitas têm em fazer qualquer gentileza, isto quando não vem antes uma sapatada. Não é exagero, se considerarmos que estamos em uma realidade hipócrita, o justo, o normal seria trocarmos gentilezas com elas. Não estou cobrando para ser educado, mas apenas permito decepcionar-me quando vejo à minha volta mulheres que se supõem femininas e por isso saem dando tranco. Acham-se superiores objetos feministas.
A feminilidade não é para coisas, é um dom belo, uma virtude que enobrece e gera respeito tanto para os homens como para elas.
Minha atitude de menino, ainda muito novo e por meu pai ter comentado muito acabou me servindo de lição com o passar dos anos.
Lamento que os homens também não estejam lá tão educados. Mas grosseria e estupidez ficam muito mais feias se forem orquestradas pelas mulheres,
Mas não esperem de mim nenhum troco. Vou continuar vivendo segundo a lição de meu pai, tomara que eu consiga não me distrair nunca.
LÍBANO MONTESANTI CALIL ATALLAH
professor
Naquela noite, há cinquenta anos atrás minha irmã acordou-me com seu choro. Sonolento e meio chateado perguntei-lhe o estava acontecendo, ela me falou que havia ladrão lá no quintal, pois estava forçando a janela para poder entrar em nosso quarto, lá no Moinho Velho.
Eu estava tonto de sono, mas resolvi acudir a todos principalmente a ela que acreditava que o barulho era feito pelo ladrão.
Nossa casa era muito grande e na escuridão eu fui atravessando até o quarto de meus pais, eu sempre soube que a mim nada iria acontecer, tinha que acreditar que no momento exato eu daria um jeito de me safar. Covarde, mas inteligente.
Parei na porta do quarto deles, os meus pais, até que meu pai resolvesse acordar, acho que ele estranhou, mas acendeu a luz do abajur que estava sobre o criado e perguntou o que estava acontecendo. Respondi-lhe que a Marialva disse tinha ladrão tentando entrar em nosso quarto.
Meu pai atravessou a casa junto comigo e ao chegar a nosso quarto teve a brilhante idéia de acender a luz. Acho que tudo ficou menos assustador. Éramos três irmãos, eu contava com uns três a quatro anos de idade não mais, minha irmã deveria ter por volta de quatro e meu irmão dois ou três.
Naquela noite ventava muito e a veneziana balançava com o vento produzindo o barulho que junto com a vidraça, a assustava.
Meu pai nos tranquilizou e voltou para se quarto.
Não tinha idade ainda para meditar sobre o acontecido, sabia apenas o que havia feito, mas ao sabor filosófico tudo era insípido. Com a pouca idade que tinha eu apenas queria brincar.
No entanto eu ouvia meu pai comentar com todos, durante certo tempo sobre minha coragem. Eu não acreditava que aquela atitude de menino pudesse me reservar tantas futuras lições.
Meu pai era filho de árabe-libaneses e explicava que lá no oriente médio os homens não deixavam as mulheres em situações difíceis. Eu nunca discordei dele, mas também não acreditava que ser cavalheiro, era o que ele ensinava, exigisse qualquer sacrifício a mais. Aliás, até hoje eu ainda não mudei de ideia, ao menor sinal estou pronto para fazer uma gentileza, sem permitir que meu ato mereça em seguida qualquer mérito.
Mas surpreendo-me que por parte de algumas mulheres, minha educação soa muito estranha, comentam estupefatas ou até mesmo debochando que sou um cavalheiro.
Noto também a dificuldade que muitas têm em fazer qualquer gentileza, isto quando não vem antes uma sapatada. Não é exagero, se considerarmos que estamos em uma realidade hipócrita, o justo, o normal seria trocarmos gentilezas com elas. Não estou cobrando para ser educado, mas apenas permito decepcionar-me quando vejo à minha volta mulheres que se supõem femininas e por isso saem dando tranco. Acham-se superiores objetos feministas.
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Líbano Montesanti Calil Atallah
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